domingo, 29 de setembro de 2013

OS GRILOS - Mario Quintana

Os grilos abrem frinchas no silêncio.
Os grilos trincam as vidraças negras da noite.
E o silêncio das vastas solidões noturnas
é uma rede tecida de cricrilos...  Mas
impossível que haja tantos grilos no mundo,
pensa o Doutor...  Sim, talvez seja um problema do labirinto,
retruco, telepático. Mas eu só acredito no que está nos meus poemas,
doutor...  Meus poemas é que são os meus sentidos
e não esses, tão poucos, que se contam pelos dedos
e não passam de um único bicho estropiado de cinco patas,
com que mal pode se locomover.
Chego ao fim da consulta como chego ao fim deste soneto.
Fecha-se a porta do poema e saio para a rua:
...  um pobre bicho perdido, perdido ...